Sincronização Hemisférica Cerebral: De Escravo a Mestre de seus Pensamentos e Emoções

Nosso cérebro, assim como nosso planeta, é dividido em dois hemisférios. A Terra é dividida de forma vertical entre Hemisférios Norte e Sul e o cérebro, por sua vez, é dividido horizontalmente entre Hemisférios Direito e Esquerdo. Assim como os da Terra são diferentes um do outro, os dos nossos cérebros também o são. Entender as diferenças entre esses hemisférios presentes em nossos corpos, como identificar suas ações peculiares e aprender a sincronizá-los nos leva a uma maior consciência de nossos pensamentos, sentimentos e atitudes. Mas qual a responsabilidade de cada um e como atingir a sincronização entre eles? E quais os benefícios provenientes desta?

Primeiramente, devemos discutir o cérebro como um todo: A um nível básico temos nossos sistemas de percepção - visão, audição, tato, paladar e olfato; já em outro nível temos as diferentes formas de inteligência - linguística, espacial, cinestésica, musical, matemática, intrapessoal e interpessoal. Nossos cérebros são projetados para captar informações do mundo, processá-las internamente (cognição) e então, a partir desse processamento, criar uma resposta específica e adequada. Dessa forma, a maneira como percebemos a realidade influencia diretamente como nos comportamos.

Os lados direito e esquerdo do cérebro são bastante distintos um do outro: enquanto os hemisférios do planeta Terra nem sempre se conectam, os hemisférios cerebrais são separados fisicamente enquanto conectados através de fibras nervosas chamadas de “corpo caloso”. Essa separação permite que cada lado do cérebro funcione de uma forma um tanto quanto independente e execute formas bastante distintas de processamento. Entretanto, como há um fluxo de informação neural entre os dois hemisférios, uma forma integrada de processamento é também possível que permite que o cérebro alcance níveis mais altos de funcionamento. Quando cada lado diferenciado pode contribuir para um todo integrado, nós somos capazes de alcançar mais do que quando os hemisférios individuais permanecem em isolamento.

Em segundo lugar, é importante que entendamos as diferenças entre esses hemisférios. O hemisfério direito, mais precisamente, trabalha como uma forma de processamento predominante chamada de “Modo de Processamento do Lado Direito”. Esse tipo de processamento é não-linear, holístico, contextual, intuitivo, criativo, musical, imaginativo e aventureiro. Ele vê possibilidades e trabalha com símbolo e imagens. Ele é especializado em informação autobiográfica, no envio e percepção de sinais não-verbais, em emoções espontâneas e cruas, em consciência, regulação, um senso integrado do corpo, cognição social e habilidade de entender os outros, captação e processamento de informação contextual e espacial e modos mentais do eu.

Já o Modo de Processamento do Lado Esquerdo é linear, lógico, linguístico, bom em matemática, orientado por detalhes, guiado por fatos, baseado na realidade, objetivo, analítico, prático, seguro e cuidadoso. Ele tem habilidades científicas, ama a ordem, encontra padrões e trabalha com a linguagem tanto escrita quanto falada. Ele é especializado em raciocínio silogístico (busca por padrões de causa e efeito), análise linguística (uso de palavras para descrever o mundo), pensamento do tipo “correto versus errado”. Esse tipo de processamento é baseado em linguagem.

Como utilizamos os dois tipos de processamento e os dois hemisférios do cérebro estão em constante comunicação, os dados processados por ambos são unidos e seu resultado é uma história que contamos para nós mesmos em nossas mentes. Essas histórias ou narrativas podem ser tanto coerentes quanto incoerentes, dependendo de quão integrados ambos os lados estão e qual o lado predominante em determinado momento. A coerência (ou incoerência) das histórias que contamos para nós mesmos influencia diretamente a forma como nos comportamos, uma vez que a maneira como percebemos a realidade afeta a maneira como nos relacionamos com ela.

Em terceiro lugar, buscamos responder a seguinte pergunta: “Quais os benefícios de atingir a harmonização hemisférica do cérebro?” A resposta se baseia em: histórias. Quando ouvimos alguém contar uma história, podemos duvidar dela ou acreditar totalmente, certo? Quando nossos cérebros nos contam histórias nosso maior e principal impulso é de acreditar piamente em tudo que está sendo dito. Quando trabalhamos com um cérebro desarmonizado a chance de contarmos algo para nós mesmos que não é coerente com a realidade é imensa, afetando assim (e muito) a forma como nos relacionamos com nós mesmos, com os outros e com a vida em geral.

Assim, precisamos contar a nós mesmos novas histórias, histórias baseadas na totalidade dos fatos, pois narrativas que fazem sentido da vida emergem de uma síntese do impulso do lado esquerdo de explicar e das informações autobiográficas, sociais e emocionais estocadas pelo lado direito. Uma narrativa coerente é resultado de uma fusão flexível dos modos de processamento do lado direito e do lado esquerdo. Quando essa fusão é eficaz, nós temos um senso coerente da nossa própria história de vida, o que nos permite compreender nossas vidas de maneira completa, levando em consideração tanto o racional quanto o emocional, sem descartar, ignorar ou exagerar nenhum fato ou acontecimento.

Além de trazer mais coerência para nossas vidas, essa síntese de ambos os lados, que é atingida através da sincronização ou harmonização entre os hemisférios cerebrais, traz também outros benefícios. Um deles é o fato de que, conforme contamos histórias coerentes para nós mesmos, somos mais capazes de compreender os outros e ajudá-los a contar histórias mais coerentes para eles mesmos. Outro benefício é que, com o equilíbrio e fusão entre os modos de processamento, nos sentimos mais em controle de nossos pensamentos e emoções e como não somos mais escravos de nossas próprias mentes, passamos não mais a reagir diante de obstáculos e desafios e sim a agir conscientemente, com base na análise proveniente desse cérebro que trabalha em totalidade.

O último benefício a ser citado está ligado com a busca interior e sua conexão com seu eu interior. Quando buscamos respostas através de orações e/ou meditações, etc., e estamos abertos ao direcionamento que vem tanto de nossas próprias almas, do universo, de Deus ou do que você acredita que te direciona, muitas vezes temos a seguinte dúvida: “Esse é meu ego falando?”, “Essa resposta veio de mim mesma ou de Deus/Jesus/Espírito Santo/guias espirituais/anjos/ancestrais/etc.?”, “Como saber se não estou direcionando a mim mesma(o) com base nas minhas próprias vontades?”. A resposta é na verdade simples: saiba de qual lado vem o pensamento. Como o lado esquerdo é lógico e racional, baseado na realidade, esse é o lado conectado ao nosso ego. Esse é o lado que formula nossos pensamentos mais objetivos e lineares e procura nos proteger baseado em padrões do passado. Já o lado direito é o lado do cérebro que é intuitivo e aventureiro, que se baseia em símbolos e imagens e enxerga claramente as possibilidades que existem para cada um de nós. Dessa forma, o hemisfério direito é o hemisfério conectado a nossa alma e ao mundo espiritual, seja lá como você os enxerga. Assim, ao praticarmos a consciência de reconhecer qual lado do cérebro está operante em determinado momento somos capazes de confirmar a fonte de nossos pensamentos e sentimentos. Se for proveniente do lado esquerdo, é você mesmo falando, é seu ego te guiando. No entanto, se a fonte for o lado direito, é intuição, é sua alma, são seus guias, é Deus, o universo, ou como você queira nomeá-los.

A questão é então identificar os modos de processamento no dia-a-dia. Para que essa identificação seja possível é necessário primeiro que aprendamos a senti-los em nossos corpos e a identificar suas mais sutis apresentações e contribuições.

Quando falamos do modo de processamento do lado esquerdo, estamos falando de uma abordagem mais lógica e racional. Nós todos temos a habilidade de nos distanciar de sensações incontroláveis e menos previsíveis de experiências emocionais cruas. Quando o fazemos, estamos trabalhando com o modo predominante do lado esquerdo, em que as informações do hemisfério esquerdo passam por cima daquelas provenientes do lado direito.

Já o lado direito é mais criativo e intuitivo. Pode haver momentos em que temos consciência de sermos preenchidos por sensações que não conseguimos nomear ou entender logicamente: imagens na mente (terceiro olho), sensações corporais ou noções que parecem flutuar para dentro e fora de nossa consciência. Nós podemos perder a noção do tempo e sentir profundamente conectados ao que estamos percebendo com pouca ou nenhuma preocupação com a relação de causa e efeito do mundo. Nós podemos ficar imergidos nos aspectos corporais, emocionais e perceptivos de uma experiência. Quando isso acontece, o modo predominante é o direito.

Outro exemplo é a maneira como lidamos com situações de estresse e conflito. Como você se sente ao lidar com uma pessoa ou situação extremamente emocional? Fica nervoso, reativo, ansioso? Sente-se incapaz de racionalizar a situação e encontrar uma solução? Caso sua resposta seja sim, nesses momentos seu modo de processamento dominante é o do Hemisfério Direito. No entanto, caso você se sinta rígido nessas situações nos seus pensamentos e ações, tenha dificuldade em se conectar e simpatizar com aquela pessoa e conversar normalmente e/ou responder às situações, seu modo de processamento dominante é o do Hemisfério Esquerdo.

Além de prestar atenção nas nossas respostas mais instintivas e espontâneas, podemos também observar algo muito peculiar em nosso corpo: nossa respiração. E quando falamos sobre respiração não estamos falando, por exemplo, de quão rápida é sua respiração ou de quão consciente você está do seu padrão de respiração. O que estamos falando é sobre algo explicado em uma técnica oriental chamada “Nadi Shodhana”. Essa técnica de respiração alternada das narinas tem como resultado o equilíbrio do sistema nervoso, uma vez que se entende que a narina esquerda está conectada ao hemisfério direito do cérebro e a narina direita, por sua vez, ao hemisfério direito. Veremos mais sobre a técnica nos exercícios de harmonização, mas o importante no momento é entender que cada narina está conectada a um hemisfério distinto. Dessa forma, em qualquer momento em que seja necessário podemos tomar consciência de qual hemisfério está operando em maior capacidade ao observarmos qual narina está operando com maior intensidade. Se você estiver respirando mais pela narina esquerda, seu modo de operação predominante é o direito e, caso seja a direita, o lado predominante é o esquerdo.

Porém, além de sermos capazes de identificar qual o modo predominante de ação cerebral em determinado momento, o que já é incrivelmente válido, nosso foco, nesse texto, é falar sobre a harmonização entre os dois hemisférios, de forma que eles trabalhem de forma conectada e equilibrada. Vejamos então alguns exercícios que podem ser feitos com esse fim:

Exercícios para Sincronização e Harmonização Hemisférica do Cérebro

1. Meditação

2. Movimento circulares com os olhos

Lentamente gire seus olhos do lado esquerdo para o lado direito em movimentos circulares, sem forçá-los.

3. Movimento dos joelhos

Ao andar, levante seus joelhos a 90º e use sua palma direita para tocar o joelho esquerdo e vice-versa.

4. Treine seus ouvidos

Foque em ouvir com um ouvido de cada vez por algumas respirações, alternando-os, e após fazer isso por algumas vezes, foque no centro do cérebro iluminando-o com consciência.

5. Respiração - Nadi Shodhana

Técnica de respiração alternada com o propósito de regular o fluxo de ar entre suas passagens nasais. Narina direita conectada ao lado esquerdo e narina esquerda conectada ao lado direito.

Como fazer:

Sente-se e coloque sua mão esquerda com a palma virada para cima em sua coxa esquerda. A mão direita vai ao rosto – seus dedos indicador e do meio ficam entre as sobrancelhas, enquanto o dedão fica sobre a narina direita e o dedo anelar sobre a esquerda. O dedinho pode ficar como você se sentir mais confortável. O que você quer fazer a partir daí é fechar uma narina e respirar pela outra. No pico da inalação você irá fechar ambas as narinas e após irá exalar usando a narina oposta da inalação. Por exemplo, feche com seu dedão sua narina direita e respire pela esquerda. No pico da respiração, feche ambas as narinas e segure por 1 segundo. Então, mantenha sua narina esquerda com seu dedo anelar e abra a narina direita, exalando o ar através dela. Na próxima respiração, você fará o contrário, inalando então pela narina direita e vice-versa. Faça isso por 9 respirações.

6. Diário

A escrita nos ajuda muito a reconhecer nosso modo de processamento. Algumas perguntas para você responder, mentalmente (caso não seja muito adepto a escrita) ou mantendo um registro:

a. Você sente qual lado predominante: direito ou esquerdo?

b. Isso muda de acordo com o ambiente?

c. Observa mudanças no modo de processamento conforme você amadurece?

d. Quais situações te levam a trabalhar mais com o processamento do lado direito?

e. Quais situações te levam a trabalhar mais com o processamento do lado esquerdo?

f. Como você sente essa diferença no seu corpo e na sua mente?

g. Quais seus objetivos com a harmonização e sincronização hemisférica?

Como podemos ver os exercícios de sincronização e harmonização cerebral são simples e podem ser feitos a qualquer momento e em qualquer lugar. Conforme você vai criando o hábito de fazê-los, eles se tornam naturais e você começa a sentir o conforto que um cérebro trabalhando em harmonia e totalidade nos traz. Esse bem-estar mental aumenta conforme integramos nossos modos de processamento e aprofundamos nosso senso de conexão com nós mesmos e com os outros. Essa integração permite atinjamos o autoconhecimento e que nossas relações interpessoais floresçam e enriqueçam nossas vidas.

Toda semente que plantamos, ainda que seja em nós mesmos, produz frutos. E com certeza os frutos da sincronização hemisférica do cérebro são valiosos. Divirta-se e aproveite!! Desejo a vocês sucesso no plantio e na colheita!